Páginas

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Todos juntos


Enriquez - Bardotti - Chico Buarque/1977, para o musical infantil "Os Saltimbancos" - 1ª versão*

Uma gata, o que é que tem?
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bichinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente vamos ver o que é que dá

Junte um bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar

Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer

Uma gata, o que é que é?
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá

Esperteza, Paciência
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar

Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer

E no entanto dizem que são tantos
Saltimbancos como somos nós.

Para o musical infantil Os saltimbancos 1977*
Leia mais...

Os dias bons

Por Duda Rangel, em 24/09 / www.desilusoesperdidas.blogspot.com

Dia bom é dia de homicídio, parricídio, vizinhocídio. É a maldade humana que vende jornal. De atropelamento ninguém quer saber. Ainda mais se for de velhinha.

Alexandre já estava na terceira delegacia de sua ronda matutina e os boletins de ocorrência da noite e da madrugada só falavam do bêbado que bateu na mulher aqui, do carro roubado ali, da confusão no pagode acolá.

Dia bom é dia de chacina, carnificina e outras tristes sinas. É a história do menino trabalhador que estava no lugar errado e na hora errada quando o fuzilamento no bar começou que vende jornal. Ele só queria comprar um maço de cigarros pra mãe.

Alexandre ainda tinha esperança de salvar a página policial do dia seguinte nas duas delegacias que restavam. Essa busca o excitava. Quando encontrava "a notícia" em algum BO, burocrática e fria, anotava telefones e endereços dos parentes da vítima e voava para o carro de reportagem. Começava a melhor parte: a descoberta da história oculta, ainda mais sórdida, mais humana.

Dia bom é dia de velório com revolta, de desgraça sem volta.

É o que vende jornal.
Leia mais...